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Famílias estão vendendo órgãos e as próprias filhas para ter o que comer


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No segundo inverno desde que o Talibã retomou o poder, o que levou ao congelamento de fundos de ajuda estrangeiros, milhões de pessoas estão a um passo da fome

Foto: BBC
Famílias afegãs estão dando medicamentos aos filhos que passam fome para sedá-los

Famílias afegãs estão dando medicamentos aos filhos que passam fome para sedá-los. Outros estão vendendo filhas e órgãos para sobreviver. No segundo inverno desde que o Talibã retomou o poder, o que levou ao congelamento de fundos de ajuda estrangeiros, milhões de pessoas estão a um passo da fome.

Nos arredores de Herat, a terceira maior cidade do país, em um assentamento de milhares de pequenas casas de barro que cresceu ao longo de décadas, vive de pessoas deslocadas e atingidas por guerras e desastres naturais.

A ONU disse que uma "catástrofe" humanitária está em curso no Afeganistão.

A maioria dos homens nessa área nas cercanias de Herat trabalha fazendo bicos de um dia. Eles levam uma vida difícil há anos.

Quando o Talibã assumiu o poder em agosto passado, sem obter reconhecimento da comunidade internacional, fundos estrangeiros destinados ao Afeganistão foram congelados, provocando um colapso econômico que deixou os homens sem trabalho na maioria dos dias.

Nos raros dias em que encontram trabalho, ganham cerca de 100 afeganes, ou pouco mais de US$ 1 (cerca de R$ 5,50).

Pessoas estão sendo forçadas a tomar medidas extremas para salvar suas famílias da fome.

Ammar (nome fictício), que está na casa dos 20 anos, disse que fez uma cirurgia para remover o rim há três meses: "Não havia saída. Ouvi dizer que você poderia vender um rim em um hospital local. Fui lá e disse a eles que estava disposto. Algumas semanas depois, recebi um telefonema pedindo que eu fosse ao hospital. Lá fizeram alguns exames, depois injetaram em mim algo que me deixou inconsciente. Fiquei com medo, mas não tive opção", disse ele.

Ele afirma ter recebido o equivalente a US$ 3.100 (cerca de R$ 17 mil) pelo rim. A maior parte do dinheiro foi usado para saldar a dívida contraída para comprar comida para sua família.

A venda de órgãos em situação de necessidade não é algo inédito no Afeganistão. Costumava acontecer mesmo antes do Talibã retomar o poder.

Mas, mesmo após tomar uma decisão tão difícil, as pessoas seguem com dificuldades para encontrar os meios para sobreviver.

"Estamos sendo forçados a vender nossa filha de dois anos. As pessoas de quem pegamos dinheiro emprestado ficam em cima todos os dias, dizendo: nos dê a sua filha se não puder nos pagar", disse uma mulher que também foi obrigada a vender um de seus órgãos.

"Vendi minha filha de cinco anos por 100 mil afeganes [cerca de US$ 1.150]", disse Nizamuddin, uma pessoa da comunidade. Isso é menos da metade do valor de um rim, de acordo com o que soube de pessoas que negociam.

A menina foi vendida para se casar com um menino de uma família da província de Kandahar, no sul. Aos 14 anos, ela deixará a sua família. Até agora, Hazratullah recebeu dois pagamentos por ela.

O aumento vertiginoso das taxas de desnutrição é uma evidência do impacto que a fome tem em crianças menores de cinco anos no Afeganistão. Médicos Sem Fronteiras (MSF) viu a taxa de internações aumentar em até 47% em relação ao ano anterior em suas instalações em todo o país.

O centro de alimentação da organização em Herat é a única instalação de desnutrição bem equipada que atende não apenas a região, mas também províncias vizinhas de Ghor e Badghis, onde as taxas de desnutrição aumentaram 55% no ano passado.

Desde o ano passado, o número de leitos teve que ser aumentado em razão das internações elevadas de crianças. Mas, mesmo assim, o local está quase sempre lotado. E as doenças vão além de desnutrição.

Longe das atenções do mundo, a escala da crise no Afeganistão pode nunca vir à tona.

 

*Com reportagem de Imogen Anderson e Malik Mudassir

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Fonte: Redação Cornélio Notícias, com informações da BBC
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